"NAO ESTOU DE ACORDO COM O QUE DIZES, MAS

DEFENDEREI ATÉ A MORTE TEU DIREITO DE DIZÊ-LO!"

EVELYN B. HALL (atribuida a Voltaire).



viernes, 2 de noviembre de 2012

ENQUANTO SE “COMBATE” A POBREZA ABSOLUTA

CRIAM-SE BASES PARA A RADICALIZAÇÃO DA POBREZA MAIS PERIGOSA:
A ERA DOS SEM TECTO
Éramos ditos pobres no “ranking” dos que nos avaliavam desde fora, e de facto o éramos: todos nós éramos pobres e isso criava um ambiente estável entre nós pois nos encontrávamos todos no mesmo poço; não era muito difícil exercitar a tolerância.
Começou a “batalha” e pusemo-nos em campo, mas o sacrifício é só de alguns em proveito de outros.
Esses outros, os avantajados, de tão bem que se sentem nem se dão conta de que há quem está suando noite e dia e isso começa a cair mal para os sacrificados, mas não é disto que tenho que abordar agora.
O que não esta por tardar é a triste realidade a que em breve nos encontraremos a dos cidadãos sem tecto. Aqui entre nós “homeless” era uma palavra desconhecida, _ e de facto não é portuguesa! _ O vocábulo sem tecto não era comummente usado, pois a sua realidade não fazia parte do nosso quotidiano. Sem tecto eram os meninos da rua, mas não porque não o tivessem, sim porque, na maioria dos casos, era pouco apetecido: a rua era preferência ou alternativa e não “destino” irrevogável.
Agora porém entramos para a era de pessoas sem tecto no sentido mais apropriado do vocábulo: que não têm por onde se abrigar. Não sei se não se estão dando conta aqueles que levam os destinos da nação ou isto está sendo de proveito para eles.
O que sempre assegurou que tivéssemos residências, ainda que fosse em cubatas, mas casas nossas foi a existência de material florestal com o qual cobrimos as nossas moradias.
Desgraçadamente as florestas estão sumindo a galope e, ainda que haja discursos no sentido de não só  manté-las mas também multiplica-las não vejo nenhum empenho serio nisso e não conheço projectos sustentáveis a respeito: vi pelos “média“ a dita “Campanha um aluno uma arvore um líder uma floresta”, mas ainda não vi no terreno a floresta de um só líder. Enquanto isso, as florestas naturais que vi a pouco menos de dez anos já estão deixando de existir e outras já desapareceram: entre a exploração de madeira de cujo controle está perdido e o fabrico de carvão vegetal para a cozinha acrescido ao derrube para abertura de machambas as arvores já estão dizendo “Adeus”. Com esta sua despedida a possibilidade de um pacato cidadão voltar a construir está sendo muito reduzida: nem todos têm o suficiente para comprar oleado de cobertura; o custo do barrote usado na construção mista triplicou.
A par do não ter tecto vem o não ter canto: a terra está saindo de nossas mãos para os chineses, os brasileiros e muitos outros investidores; a terra está deixando de ser agro para ser mineral; os locais de assentamento para as populações abrangidas por projectos de investimento não têm tido a suficiência adequada para acomodar pessoas que futuramente tudo caberá à sua sorte _ e se alguém dissesse que o Estado se ocuparia delas por tempo pleno seria ridículo.
Pouco a pouco as nossas sortes estão se afastando de nós. Estamos combatendo a pobreza absoluta e ao mesmo tempo criando a “tensão da pobreza”, tensão essa de muito grande potencial que pode ser explosiva e criar instabilidade insanável na terra onde os pobres se entendiam e a coabitação era pouco conflitiva.