Visitei vários municípios das províncias de Niassa,
Zambézia e Nampula em plena época eleitoral. De Metangula, onde estive já para
o encerramento da campanha eleitoral, pareceu-me não haver suficiente oposição defronte
do partido que vinha governando, a FRELIMO: o MDM estava com fraca representação
e pouca capacidade de propaganda, alias a RENAMO é o partido na oposição que
mais visível se faz, mas não esteve no campo de jogo. Em Lichinga visitei
alguns postos de votação: muita fraca afluência é o que vi. Um dia antes do
inicio dos votos, no mercado central, parecia ser a RENAMO quem ali manda:
discurso gravado de Afonso Dlakama era o que recreava as pessoas. E de facto,
muita aceitação tem ali aquele partido _ o que pareceu ter-me confirmado a afluência
às urnas. Muito cedo, dia 20 de Novembro visitei Mandimba: Alguem ia perguntando " Voces deixaram ganhar a FRELIMO?" E a resposta era repetitiva "Quem seria mais!" Escalei Cuamba, no dia 20 de Novembro: o ar estava sombrio; o meu esforço
por apurar alguma previsão do resultado fez-se baldado porque as pessoas não eram
abertas. Afastado 60 kms da cidade, por telefonemas, as pessoas se expressavam
melhor e era frequente ouvir “ como sempre” _ quem entende entenda. Na manha
seguinte as pessoas já confessavam a sua insatisfação com o processo de
contagem. Prossegui. Milange nem foi necessário entrar pela vila para ouvir:
ainda de longe ressoavam os ecos de protesto: a contagem estava viciada, segundo
dizeres. Depois de passar por este distrito fui pernoitar em Gurue: estava
ainda a entrar e vi patrulhas da FIR, em veículos, pela cidade. As pessoas
estavam com medo. Contaram de como eles haviam usado de grande influência na
contagem dos votos e até recebi relatos
de mortes, mas quando quis inteirar-me de quem e aonde as pessoas não queriam
expor-se. Ali pernoitei e as patrulhas da FIR continuaram. Na manha do dia 23
passei por Alto Molocue: aqui não deu para apurar muita coisa: apenas parei e
se fizeram presentes os agentes da Policia Camarária, um após outro, de tal
modo que evitei expor-me. Nem sequer consegui ler os rostos. Fiz algumas
compras e prossegui. Curiosamente, à saída, um dos agentes da citada polícia
saudou-me calorosamente, depois que havia ficado muito tempo antes a meu lado
sem dizer palavra. Cheguei a Nampula: não e para comentários.
E o povo que votou, e o povo que comenta, e o
povo que reclama, e o povo que é usado, e o povo que paga os impostos, e o povo
que é o verdadeiro dono da terra!? Lá está: sofrido.
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