"NAO ESTOU DE ACORDO COM O QUE DIZES, MAS

DEFENDEREI ATÉ A MORTE TEU DIREITO DE DIZÊ-LO!"

EVELYN B. HALL (atribuida a Voltaire).



jueves, 23 de enero de 2014

E O POVO?

Visitei vários municípios das províncias de Niassa, Zambézia e Nampula em plena época eleitoral. De Metangula, onde estive já para o encerramento da campanha eleitoral, pareceu-me não haver suficiente oposição defronte do partido que vinha governando, a FRELIMO: o MDM estava com fraca representação e pouca capacidade de propaganda, alias a RENAMO é o partido na oposição que mais visível se faz, mas não esteve no campo de jogo. Em Lichinga visitei alguns postos de votação: muita fraca afluência é o que vi. Um dia antes do inicio dos votos, no mercado central, parecia ser a RENAMO quem ali manda: discurso gravado de Afonso Dlakama era o que recreava as pessoas. E de facto, muita aceitação tem ali aquele partido _ o que pareceu ter-me confirmado a afluência às urnas. Muito cedo, dia 20 de Novembro visitei Mandimba: Alguem ia perguntando " Voces deixaram ganhar a FRELIMO?"  E a resposta era repetitiva "Quem seria mais!" Escalei Cuamba, no dia 20 de Novembro: o ar estava sombrio; o meu esforço por apurar alguma previsão do resultado fez-se baldado porque as pessoas não eram abertas. Afastado 60 kms da cidade, por telefonemas, as pessoas se expressavam melhor e era frequente ouvir “ como sempre” _ quem entende entenda. Na manha seguinte as pessoas já confessavam a sua insatisfação com o processo de contagem. Prossegui. Milange nem foi necessário entrar pela vila para ouvir: ainda de longe ressoavam os ecos de protesto: a contagem estava viciada, segundo dizeres. Depois de passar por este distrito fui pernoitar em Gurue: estava ainda a entrar e vi patrulhas da FIR, em veículos, pela cidade. As pessoas estavam com medo. Contaram de como eles haviam usado de grande influência na contagem  dos votos e até recebi relatos de mortes, mas quando quis inteirar-me de quem e aonde as pessoas não queriam expor-se. Ali pernoitei e as patrulhas da FIR continuaram. Na manha do dia 23 passei por Alto Molocue: aqui não deu para apurar muita coisa: apenas parei e se fizeram presentes os agentes da Policia Camarária, um após outro, de tal modo que evitei expor-me. Nem sequer consegui ler os rostos. Fiz algumas compras e prossegui. Curiosamente, à saída, um dos agentes da citada polícia saudou-me calorosamente, depois que havia ficado muito tempo antes a meu lado sem dizer palavra. Cheguei a Nampula: não e para comentários.
E o povo que votou, e o povo que comenta, e o povo que reclama, e o povo que é usado, e o povo que paga os impostos, e o povo que é o verdadeiro dono da terra!? Lá está: sofrido.

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