"NAO ESTOU DE ACORDO COM O QUE DIZES, MAS

DEFENDEREI ATÉ A MORTE TEU DIREITO DE DIZÊ-LO!"

EVELYN B. HALL (atribuida a Voltaire).



jueves, 22 de agosto de 2013

É Zambézia um outro Estado dentro de Moçambique?

Que eu saiba os agentes autorizados a fazer a fiscalização regular do tráfego rodoviário são os membros da polícia de trânsito _ não que os outros não possam fazer, mas com motivos justificados. _ Lá, do outro lado do rio não é assim. Refiro-me concretamente na margem do rio Ligonha, distrito de Gilé, posto administrativo de Alto-Ligonha. Há lá dois constróis junto  a estrada nacional Centro-Nordeste. Há anos atrás viajei a Zambézia e sempre que passasse por rio Ligonha, na margem leste me advertiam os agentes da Policia de trânsito da província de Nampula: Cuide-se, está indo para Zambézia, ali as coisas são diferentes, mas nunca levara aquilo a sério, considerava apenas coisa de cortesia ou similar.
Há bem pouco tempo ouvi falar de que as coisas estavam demais no posto administrativo de Alto-Ligonha, mas pensei serem exageros das bocas e línguas de quem quer dizer mais ou ser mais ouvido. Agora não é coisa de ouvidos: lá estive há bem poucos dias. Fui desde a província de Nampula em missão de socorro. Não faltou a cortesia dos agentes policiais no posto policial do rio ligonha no lado de cá. A ida o tráfego era intenso e haviam veículos com que se entretinham os famosos e temidos agentes policiais afectos ao posto de controlo de Namuaca, um povoado pertencente a localidade de Namirreco, posto administrativo de Alto_Ligonha, distrito de Gile, província da Zambézia, onde se localiza o desvio rodoviário que acede a sede do distrito passando por Muiane, uma famosa localidade, fama essa que lhe vem dos recursos do subsolo: ouro e pedras semi-preciosas. 
A missão tinha sido bem sucedida: consistia em levar uma rótula de uma viatura avariada em um cortejo fúnebre.
Era o momento de regressar. Duas das ocupantes dos assentos de viatura que iam comigo balbuciaram: “Os polícias”. Para mim era coisa de pouco interesse, mas o haviam dito com conhecimento de causa de tanto transitar por ali. A estrada estava com uma única viatura a transitar nos dois sentidos. Um agente da FIR (a farda usada é que me faz com que assim o identifique) sai do assento onde se encontravam quatro agentes policiais e põe-se ao centro da faixa com ar sério e manda parar, mas fê-lo sem dar a continência, com toda uma informalidade. Ao lugar indicado parei. Outros dois vieram com todo o peso de gente preparada para agir sem mais: um outro agente da FIR com arma empunhada põe-se de frente da viatura, um terceiro, envergando uniforme azul-escuro fica do outro lado da viatura ficando a pequena Toyota Litz ladeada de policias como que em missão combativa. Quis saber do que me havia feito parar e apenas olhei para ele disse para mim: “ O chefe”. Pensei que referisse ao agente da polícia de trânsito, que perfazia o número quatro, mas este tinha se afastado logo que o seu colega se fizera ao centro da estrada e fez como quem ia ao sanitário. Lancei o olhar para ele, estava a não menos de trinta metros e nem sequer olhava para o lado da estrada. Voltei-me de novo para aquele que me fizera parar e perguntes-lhe o que se estava passando. Olhando de novo do outro ele diz: “Sim chefe”. Quando quis saber de que chefe se tratava vi que de lado da frente o homem armado estava fazendo alguns registos da viatura; da janela lateral frontal o homem vestido a azul-escuro estava bem encostado lá olhando sério para a ocupante. Eu também olhei para ele e ele afastou-se. Quis de novo saber do que me havia feito parar e ele diz: “O chefe disse para irem”. De que chefe é que eu não sei:O Agente da policia de transito continuava distante e ás costas. Tranquilizei as pessoas que iam comigo e disse “Por causa das ocorrências de Muchúnguè e Satungira eles estão de alerta”., mas não deu para convencer aqueles que tinham passado por ali várias vezes. Antes afirmaram ao contrário: “Aqui é assim, esperavam que tirasses dinheiro só que notaram que o caso era diferente. Quis ainda justificar dizendo que se fosse o caso seria o agente da polícia de trânsito a mandar parar e, para grande surpresa, fiquei sabendo que habitualmente são os agentes da FIR que mandam parar as viaturas. Isto mudou de imediato o meu discurso e pensei em accionar em mecanismos para encaminhamento imediato do caso, mas a rede telefónica não ajudava. A distância para os níveis altos de intervenção era enorme: Namuaca fica no outro extremo da Zambézia. Os superiores hierárquicos de nível imediatamente superior muitas das vezes são comparsas dos desmandos de seus súbditos por vários motivos.

Ou estamos em guerra e não em paz e para isso se justifique o empunhamento da arma tratando com um cidadão civil ou a Zambézia é um outro Estado que não se rege com as normas em vigor em Moçambique ou o saudosismo por Samora Machel também trás saudades que levam a dramatização do que se passou naqueles tempos em que, povoados de forças de defesa, os constróis eram postos de espólio. Ou de uma vez por todas se acabem com incompetências profissionais. A quem de direito o meu apelo!

No hay comentarios:

Publicar un comentario

Os comentarios sao bem-vindos.
Comente sempre que queira!