Que eu saiba os
agentes autorizados a fazer a fiscalização regular do tráfego rodoviário são os
membros da polícia de trânsito _ não que os outros não possam fazer, mas com
motivos justificados. _ Lá, do outro lado do rio não é assim. Refiro-me
concretamente na margem do rio Ligonha, distrito de Gilé, posto administrativo
de Alto-Ligonha. Há lá dois constróis junto
a estrada nacional Centro-Nordeste. Há anos atrás viajei a Zambézia e
sempre que passasse por rio Ligonha, na margem leste me advertiam os agentes da
Policia de trânsito da província de Nampula: Cuide-se, está indo para Zambézia,
ali as coisas são diferentes, mas nunca levara aquilo a sério, considerava
apenas coisa de cortesia ou similar.
Há bem pouco
tempo ouvi falar de que as coisas estavam demais no posto administrativo de
Alto-Ligonha, mas pensei serem exageros das bocas e línguas de quem quer dizer
mais ou ser mais ouvido. Agora não é coisa de ouvidos: lá estive há bem poucos
dias. Fui desde a província de Nampula em missão de socorro. Não faltou a
cortesia dos agentes policiais no posto policial do rio ligonha no lado de cá.
A ida o tráfego era intenso e haviam veículos com que se entretinham os famosos
e temidos agentes policiais afectos ao posto de controlo de Namuaca, um povoado
pertencente a localidade de Namirreco, posto administrativo de Alto_Ligonha,
distrito de Gile, província da Zambézia, onde se localiza o desvio rodoviário
que acede a sede do distrito passando por Muiane, uma famosa localidade, fama
essa que lhe vem dos recursos do subsolo: ouro e pedras semi-preciosas.
A missão tinha
sido bem sucedida: consistia em levar uma rótula de uma viatura avariada em um
cortejo fúnebre.
Era o momento de
regressar. Duas das ocupantes dos assentos de viatura que iam comigo
balbuciaram: “Os polícias”. Para mim era coisa de pouco interesse, mas o haviam
dito com conhecimento de causa de tanto transitar por ali. A estrada estava com
uma única viatura a transitar nos dois sentidos. Um agente da FIR (a farda
usada é que me faz com que assim o identifique) sai do assento onde se
encontravam quatro agentes policiais e põe-se ao centro da faixa com ar sério e
manda parar, mas fê-lo sem dar a continência, com toda uma informalidade. Ao
lugar indicado parei. Outros dois vieram com todo o peso de gente preparada
para agir sem mais: um outro agente da FIR com arma empunhada põe-se de frente
da viatura, um terceiro, envergando uniforme azul-escuro fica do outro lado da
viatura ficando a pequena Toyota Litz ladeada de policias como que em missão
combativa. Quis saber do que me havia feito parar e apenas olhei para ele disse
para mim: “ O chefe”. Pensei que referisse ao agente da polícia de trânsito, que
perfazia o número quatro, mas este tinha se afastado logo que o seu colega se
fizera ao centro da estrada e fez como quem ia ao sanitário. Lancei o olhar
para ele, estava a não menos de trinta metros e nem sequer olhava para o lado
da estrada. Voltei-me de novo para aquele que me fizera parar e perguntes-lhe o
que se estava passando. Olhando de novo do outro ele diz: “Sim chefe”. Quando quis
saber de que chefe se tratava vi que de lado da frente o homem armado estava
fazendo alguns registos da viatura; da janela lateral frontal o homem vestido a
azul-escuro estava bem encostado lá olhando sério para a ocupante. Eu também
olhei para ele e ele afastou-se. Quis de novo saber do que me havia feito parar
e ele diz: “O chefe disse para irem”. De que chefe é que eu não sei:O Agente da
policia de transito continuava distante e ás costas. Tranquilizei as pessoas
que iam comigo e disse “Por causa das ocorrências de Muchúnguè e Satungira eles
estão de alerta”., mas não deu para convencer aqueles que tinham passado por
ali várias vezes. Antes afirmaram ao contrário: “Aqui é assim, esperavam que
tirasses dinheiro só que notaram que o caso era diferente. Quis ainda
justificar dizendo que se fosse o caso seria o agente da polícia de trânsito a
mandar parar e, para grande surpresa, fiquei sabendo que habitualmente são os
agentes da FIR que mandam parar as viaturas. Isto mudou de imediato o meu
discurso e pensei em accionar em mecanismos para encaminhamento imediato do
caso, mas a rede telefónica não ajudava. A distância para os níveis altos de
intervenção era enorme: Namuaca fica no outro extremo da Zambézia. Os
superiores hierárquicos de nível imediatamente superior muitas das vezes são
comparsas dos desmandos de seus súbditos por vários motivos.
…
Ou estamos em
guerra e não em paz e para isso se justifique o empunhamento da arma tratando
com um cidadão civil ou a Zambézia é um outro Estado que não se rege com as
normas em vigor em Moçambique ou o saudosismo por Samora Machel também trás
saudades que levam a dramatização do que se passou naqueles tempos em que,
povoados de forças de defesa, os constróis eram postos de espólio. Ou de uma
vez por todas se acabem com incompetências profissionais. A quem de direito o
meu apelo!
No hay comentarios:
Publicar un comentario
Os comentarios sao bem-vindos.
Comente sempre que queira!